PSICOPEDAGOGIA E CINEMA: o filme A ONDA
Alcionearques- Instituto Sedes Sapientiae
Ms Elisa Maria Pitombo- Instituto Sedes Sapientiae
Maria Paula Parisi Lauria – Instituto Sedes Sapientiae
Apresentamos reflexões psicopedagógicas sobre o filme A onda, de Dennis Gansel, baseado em fato real ocorrido em 1967, em escola secundária norte-americana localizada em Palo Alto, na Califórnia, Estados Unidos. Antes de virar filme ambientado na Alemanha, a história foi romanceada em livro. A intenção inicial do professor que viveu essa experiência na vida real era de que o curso fizesse parte do currículo da escola, a fim de que servisse de objeto de reflexão e ainda prevenisse contra a onda nazifascista iniciada no final da década de 30.
A onda traz a seguinte trama: Rainer Wenger, professor, deve ensinar seus alunos sobre autocracia, depois que o curso sobre anarquismo, seu tema de predileção, é assumido por outro professor. Devido ao desinteresse dos alunos e à sua própria falta de histórico nas aulas sobre esse tema, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo de alunos, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de "A onda", nome votado pelos alunos. Em pouco tempo, os alunos começam a aderir às propostas do professor, voltadas para o poder da unidade, e a ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wenger decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e "A onda" já saiu de seu controle.
O discurso final, proferido pelo professor Ross na primeira versão do filme feito nos Estados Unidos em 1981: “Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores”. Todos vocês teriam sido bons nazifascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’”. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos (isso é uma pergunta?). Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como “é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.
Do ponto de vista psicopedagógico, devemos nos fazer algumas indagações: Como desenvolver a autonomia do pensar e conhecer frente à massificação, ao fanatismo e à intolerância do ser humano? Como lidar com as situações de ensino-aprendizagem em grupos atraídos pela massificação de consumo: aqueles que se veem como iguais, com códigos próprios, o os leva a atos de rejeição aos “mais fracos” ou “diferentes”?
A animosidade do grupo com as pessoas que decidem não usar o uniforme, a agressão física do namorado frente às críticas que a protagonista faz ao movimento e a cena final, quando o aluno que se levanta no auditório contra A Onda é imobilizado são algumas situações de intolerância dos membros do movimento. Atos de violência do grupo de jovens, no filme, nos leva a pensar sobre que aspectos psicopedagógicos?
O filme “A Onda”, segundo Lima (2011), constitui-se numa metáfora correspondente a vários movimentos marcados pela presença de um líder carismático, sejam os Carecas do ABC paulista e os grupos de skinheads espalhados pelo mundo, entre vários outros. Nesses movimentos de líderes de poder autoritário e carismático, há sempre um chamado aos jovens para pertencerem a uma causa alheia aos interesses imediatos dos adolescentes. .
A massificação, o fanatismo e a intolerância ao ser humano são a tônica desses movimentos, representados no filme pelos jovens de camiseta branca que não têm autoria de pensamento, cuja identidade pessoal é arrebatada pela massificação do grupo. Os alunos desprezam o diálogo e se sustentam pelo argumento da emoção.
O filme nos leva a refletir sobre a perda de liberdade do “sujeito” que, do ponto de vista psicopedagógico, lemos com a falta da autonomia de pensar. No grupo retratado pelo filme, há massificação de pensamentos, com o predomínio de ordens e de ações. Em contrapartida, temos nos dias de hoje a massificação de costumes ditada pela mídia eletrônica e digital. Como ficam os sujeitos diferentes? Submetendo-se incondicionalmente ao poder do grupo, com palavras de ordens ditadas por vezes pelas de redes sociais, em direção a uma ação automática de subserviência absoluta, fazendo desaparecer o sujeito autônomo que pensa e cria.
Eco (1995), ao discutir em artigo sobre a nebulosa nuvem fascista que paira sobre o mundo atual, ressalta os sintomas da ascensão do irracional humano nos grupos nazifascista que pregam algum tipo de supremacia. Cita o fundamentalismo religioso (cristão, islâmico e judaico), como também ações criminosas vinculadas ao narcotráfico e ao terrorismo de grupos ou de Estado, com ausência de um projeto politico. O autor ainda assinala três sintomas: o desprezo pelo diálogo, o ato pelo ato, o argumento pela emoção e não pela razão. Para ele é justamente “a ação pela ação” e a “luta pela luta” que caracterizam muitos movimentos sociais da atualidade com traços fascistas.
Perante essas colocações, enquanto profissionais voltados para as questões psicopedagógicas, faz-se urgente refletirmos e, sobretudo, estarmos informados a respeito de tendências que destituem a autonomia do pensar e do conhecer, em favor de uma liderança carismática que venha aparentemente suprir necessidades individuais e grupais, com um chamado de igualdade e de um novo sentido existencial no mundo.
Referências bibliográficas
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