sexta-feira, 15 de julho de 2011

X CONPE Maringá Paraná

SUBJETIVIDADE, ENSINO E APRENDIZAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA:PRODUÇÕES DE PROGRAMAS DE PSICOLOGIA E EDUCAÇÃO


terça-feira, 31 de maio de 2011

Simposio Psicopedagogia Sedes Sapientiae Desafios frente à violência

Comunicação oral

PSICOPEDAGOGIA E CINEMA: o filme A ONDA


Alcionearques- Instituto Sedes Sapientiae

Ms Elisa Maria Pitombo- Instituto Sedes Sapientiae

Maria Paula Parisi Lauria – Instituto Sedes Sapientiae

Apresentamos reflexões psicopedagógicas sobre o filme A onda, de Dennis Gansel, baseado em fato real ocorrido em 1967, em escola secundária norte-americana localizada em Palo Alto, na Califórnia, Estados Unidos. Antes de virar filme ambientado na Alemanha, a história foi romanceada em livro. A intenção inicial do professor que viveu essa experiência na vida real era de que o curso fizesse parte do currículo da escola, a fim de que servisse de objeto de reflexão e ainda prevenisse contra a onda nazifascista iniciada no final da década de 30.

A onda traz a seguinte trama: Rainer Wenger, professor, deve ensinar seus alunos sobre autocracia, depois que o curso sobre anarquismo, seu tema de predileção, é assumido por outro professor. Devido ao desinteresse dos alunos e à sua própria falta de histórico nas aulas sobre esse tema, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo de alunos, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de "A onda", nome votado pelos alunos. Em pouco tempo, os alunos começam a aderir às propostas do professor, voltadas para o poder da unidade, e a ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wenger decide interrompê-lo. Mas é tarde demais, e "A onda" já saiu de seu controle.

O discurso final, proferido pelo professor Ross na primeira versão do filme feito nos Estados Unidos em 1981: “Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores”. Todos vocês teriam sido bons nazifascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’”. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos (isso é uma pergunta?). Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como “é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.

Do ponto de vista psicopedagógico, devemos nos fazer algumas indagações: Como desenvolver a autonomia do pensar e conhecer frente à massificação, ao fanatismo e à intolerância do ser humano? Como lidar com as situações de ensino-aprendizagem em grupos atraídos pela massificação de consumo: aqueles que se veem como iguais, com códigos próprios, o os leva a atos de rejeição aos “mais fracos” ou “diferentes”?

A animosidade do grupo com as pessoas que decidem não usar o uniforme, a agressão física do namorado frente às críticas que a protagonista faz ao movimento e a cena final, quando o aluno que se levanta no auditório contra A Onda é imobilizado são algumas situações de intolerância dos membros do movimento. Atos de violência do grupo de jovens, no filme, nos leva a pensar sobre que aspectos psicopedagógicos?

O filme “A Onda”, segundo Lima (2011), constitui-se numa metáfora correspondente a vários movimentos marcados pela presença de um líder carismático, sejam os Carecas do ABC paulista e os grupos de skinheads espalhados pelo mundo, entre vários outros. Nesses movimentos de líderes de poder autoritário e carismático, há sempre um chamado aos jovens para pertencerem a uma causa alheia aos interesses imediatos dos adolescentes. .

A massificação, o fanatismo e a intolerância ao ser humano são a tônica desses movimentos, representados no filme pelos jovens de camiseta branca que não têm autoria de pensamento, cuja identidade pessoal é arrebatada pela massificação do grupo. Os alunos desprezam o diálogo e se sustentam pelo argumento da emoção.

O filme nos leva a refletir sobre a perda de liberdade do “sujeito” que, do ponto de vista psicopedagógico, lemos com a falta da autonomia de pensar. No grupo retratado pelo filme, há massificação de pensamentos, com o predomínio de ordens e de ações. Em contrapartida, temos nos dias de hoje a massificação de costumes ditada pela mídia eletrônica e digital. Como ficam os sujeitos diferentes? Submetendo-se incondicionalmente ao poder do grupo, com palavras de ordens ditadas por vezes pelas de redes sociais, em direção a uma ação automática de subserviência absoluta, fazendo desaparecer o sujeito autônomo que pensa e cria.

Eco (1995), ao discutir em artigo sobre a nebulosa nuvem fascista que paira sobre o mundo atual, ressalta os sintomas da ascensão do irracional humano nos grupos nazifascista que pregam algum tipo de supremacia. Cita o fundamentalismo religioso (cristão, islâmico e judaico), como também ações criminosas vinculadas ao narcotráfico e ao terrorismo de grupos ou de Estado, com ausência de um projeto politico. O autor ainda assinala três sintomas: o desprezo pelo diálogo, o ato pelo ato, o argumento pela emoção e não pela razão. Para ele é justamente “a ação pela ação” e a “luta pela luta” que caracterizam muitos movimentos sociais da atualidade com traços fascistas.

Perante essas colocações, enquanto profissionais voltados para as questões psicopedagógicas, faz-se urgente refletirmos e, sobretudo, estarmos informados a respeito de tendências que destituem a autonomia do pensar e do conhecer, em favor de uma liderança carismática que venha aparentemente suprir necessidades individuais e grupais, com um chamado de igualdade e de um novo sentido existencial no mundo.

Referências bibliográficas
LIMA, Raymundo “ ‘A onda’ e o irracionalismo dos grupos”. Disponível em www.espacoacademico.com.br
ECO, Humberto. “A nebulosa fascista”. Disponível em www.bibliotecafolha.com.br














 

















terça-feira, 24 de maio de 2011

Tempo de aprender e o aprender com o tempo


Trago alguns pensares sobre a resinificação do tempo do aprender nos dias de hoje, nas instituições: escola e família, bem como o processo de aprender com o tempo.

Na minha prática psicopedagógica clínica em parceria com pais e escola, desenvolvo possibilidades de atuação dos seres pensantes no aprender na construção do conhecimento cientifico–cultural escolar e o conhecimento cotidiano familiar.
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Fernandez (2000) ao discutir sobre a aprendizagem de hoje e as modificações da construção do tempo, defende que “... havemos roubado o tempo, como diz Gonçalves da Cruz (1995) e Saidón (1995) junto a Deleuze, a Psicanálise é uma invenção do tempo para que o sujeito possa escutar-se e temos permitido que assim aconteça...“ (p. 244). Por analogia a autora assinala que a “... Psicopedagogia pode ser a produção de tempo para que possamos nos inventar pensantes” (p. 244).


Os instrumentos de comunicação da atualidade como a Internet, o celular, a televisão, fazem parte dos saberes do cotidiano advindo dos avanços do saberes científico culturais., constituem-se numa realidade. No entanto, a velocidade de imagens, de informações, de sons, por vezes afasta dos desafios reais do cotidiano. No meu modo de pensar, assistimos a uma aceleração da realidade, onde as relações humanas se distanciam de tal maneira que atingem a comunicação e, consequentemente de aprendizagem.

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Fernández (2000) ao analisar o papel da televisão na aprendizagem assinala, um ponto que concordo - o impacto da imagem visual tem tido mais força da verdade do que a palavra. A imagem da televisão parece preencher os anseios de quem a assiste. Mas a assinala que a palavra, sim é que permite um espaço para a pergunta, para o pensar e o aprender.

As modificações das construções do tempo advindas do mundo virtual de instantaneidade têm influenciado as relações de aprendizagem.

A escola e a família são atingidas pela “falta de tempo” para que seus alunos e filhos conversem, argumentem, discutam, enfim pensem. E com a “perda de tempo”, perdem o tempo para sentarem juntos e ouvirem histórias de seus antepassados familiares, ou ainda para ouvir e ver os alunos com problemas de aprendizagem.

O tempo na sociedade atual; do excesso de informação, da vertiginosidade e fugacidade das relações humanas, modifica a maneira da comunicação, da aprendizagem, e enfim do relacionamento humano.

Há então comportamentos comuns, todos têm pressa; de começar logo para terminar logo, de encerrar logo o dia para dormir logo, para acordar logo e ir enfrente logo. Mas para onde? Por que tanta urgência? A aprendizagem tem um certo tempo? E os problemas de aprendizagem têm um tempo certo duração? O atendimento psicopedagógico clínico deve atender às demandas de eficiência e eficácia do aprender? Os pais repensam o tempo dedicado ao ensinar e aprender de seus filhos? Qual seria a prioridade familiar, conversar ou ver televisão ou a Internet? Preparar os alunos para a competitividade do aprender ou para a cooperação do ensinar e aprender? Atender a dúvida do aluno ou pesquisar na Internet?


A aceleração temporal imposta pelas mudanças tecnológicas e sociais da pós-modernidade é vista por Fernandez (2001) ao discutir questões sobre as dificuldades da manutenção da atenção das crianças e jovens com problemas de aprendizagem, onde afirma que ”... a sociedade globalizada desatende a todos; contudo coloca como doença o que as crianças podem denunciar como a sua inquietude e falta de atenção” (p. 294).



Numa época onde o tempo individual é como que aniquilado pelo espaço cotidiano, o “aqui e o agora” adquire extrema importância devido ao ritmo imposto pelo tempo vivido na atualidade. Parece haver uma certa exigência de imediatismo de respostas, de resultados, sobretudo no processo de aprendizagem. O fracasso escolar, muitas vezes, filia-se ao fracasso familiar, e se faz urgente eliminar os seus efeitos, as notas e conceitos abaixo da media, sem ser considerado pelo ao menos as suas causas e implicações das diferenças, das particularidades de cada sujeito, de cada família e de cada escola.



Kehl (2009) ao apresentar colocações a respeito da depressão, ressalta que as novas gerações de jovens mães, filhas das mulheres fruto das mudanças e conquistas dos movimentos feministas do Ocidente são, como que afastadas da experiência da vivencia pratica da maternidade. Além desse fator ocorreu a entrada da mulher no mercado de trabalho. Perante essas mudanças o papel da mulher na família sofre transformações, e segundo Vaitsman ( 1994)., por vezes até mais flexíveis e plurais, novas famílias aparecem no cenário atual.



A idealização do filho acontece nesse cenário da competitividade do mercado. O filho sofre pressão familiar e por vezes escolar, acompanhado de uma agenda de atividades semelhante o do adulto, para ter sucesso. E desta forma com frequência, conflitos, perdas e dificuldades do processo de aprendizagem são atropelados pela aceleração do tempo de um outro, que o desconhece.



Os pais na visão de Kehl (2009), levam de maneira não avertida seus filhos ansiosos, tristes, hiperativos o até mal educados, ao psiquiatra. Não os auxiliá a enfrentar as repetências de ano, as dificuldades de aprendizagem, um insucesso no desempenho esportivo, ou até mesmo a impopularidade entre os amigos. Pontua que



São os pais, e não as crianças, que não suportam que seus filhos estejam expostos aos conflitos e crises inevitáveis da vida, assim como não toleram a ideia de que as vicissitudes da vida subjetiva possam deixá-los para trás na corrida precoce por boas colocações no futuro. Preferem medicar o sofrimento de seus filhos de modo à (re) ajustá-los rapidamente às exigências da vida escolar e dos ideais da vida social (p.278).



   Na observação clinica, vejo famílias insatisfeitas com o ideal construído por eles mesmos, sobre o aprender do filho e seu desempenho escolar. É muito baixo o tempo de tolerância aos ensaios de aprender, em geral esperam um resultado imediato e perfeito. Existe também, por parte dos pais a dificuldade perante as mudanças de comportamento da adolescência. Desta feita, os pais com certa insistência incentivam a continuidade da atitude infantilizada do jovem ou ainda não toleram esperar as crises de isolamento, típicas da construção da subjetividade do adolescer.



Concluindo acontecem poucos espaços para o sujeito ensaiar, treinar, aprender a perder e ganhar, ou ainda apenas a aprender no seu tempo e estilo.

A clínica psicopedagógica momento compartilhado entre terapeuta e cliente, é o espaço do “reconhecimento da falta”, do entrar em contato com a dificuldade para aprender, onde há um tempo de espera para que encontre a sua capacidade para aprender.



O sujeito com problema de aprendizagem necessita entrar em contato na clinica psicopedagógica, com sentimentos da espera para aprender, da falta do que sabe e do que não sabe, do tempo exigido para aquela atividade. Estes comportamentos são fundamentais para a destituição do sintoma e a transformação de um ser que escolhe, que pensa e aprende.


A possibilidade de escolher, de perguntar e de pensar , move a circulação do conhecimento na família e na escola. Essas são ideias defendidas na Psicopedagogia.



Referências bibliográficas

Fernandes  H. R. (Org.) Kehl, M. R., Mezan, R., Berlinck, M. C., Landa, F.& Costa, J. F. (1988) Tempo do desejo: Sociologia e Psicanálise (2nd.ed.). São Paulo, SP: Editora Brasiliense.

Fernández, A.  (2000) Psicopedagogia em Psicodrama: habilitando el jugar . Buenos Aires, Argentina: Ediciones Nova Visión.

Fernández, A. (2001) Os idiomas do aprendente: análise das modalidades ensinantes com famílias, escolas e meios de comunicação. Porto Alegre, RGS: Artmed Editora.

Kehl, M. R.  (2009) O tempo e o cão: a atualidade das depressões  São Paulo, SP: Boi tempo Editorial.

Vaistsman, J. (1994)  Flexíveis e plurais: identidade, casamento e família em circunstâncias pós-modernas Rio de Janeiro, RJ: Rocco.







quinta-feira, 19 de maio de 2011

Video Vocacional uma aventura humana

http://youtu.be/gO-y-kwYhfE

Em busca do tempo encontrado


 

Elisa Maria Pitombo

Foi essa a frase que me ocorreu ao término da exibição do documentário de Toni Venturi, Vocacional, uma aventura humana que participou da competição de longa e média metragem do 16 º Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade 2011, no dia 2 de abril no Cine Cultura.

Reencontrei na longa fila de espera para a retirada de ingressos para a exibição, colegas, professores e funcionários dos Ginásios Vocacionais, que com abraços saudavam uns aos outros os bons tempos de escola publica da década de 60, que fez de nós cidadãos atuantes e conscientes.

Encontrei nos olhos dos outros o orgulho de ter a nossa vivência juvenil partilhada com o mundo, sim a nossa, pois de fato construíamos o conhecimento em aula onde, por exemplo, decidíamos o currículo com professores em aula chamada - Aula Plataforma, dentre muitas das atividades escolares. Tive honra de ter participado de uma das mais significativas experiências educacionais que esse país já teve, numa época em que muitos ousavam, mas poucos resistiram... Fui da turma de 1963.

Chnauderman ao discorrer no capítulo Uma escuta - olhar: a experiência do cinema, na obra Psicanálise, Arte e Estéticas de subjetivação (2002), cita que Kátia Lundt, par de João Moreira Salles no documentário Noticias de uma guerra particular (1999) afirma que " ... é preciso ter curiosidade pelo mundo, ter uma questão que você quer entender, para fazer um documentário ( p.132) ".

Penso que Toni Venturi ao realizar o documentário a partir de sua própria experiência educacional no Ginásio Vocacional Oswaldo Aranha, precisava entender porque uma escola que estimulava o saber e o prazer no aprender, foi extinta brutalmente pela ditadura militar de 1964. Tive também a mesma inquietude ao longo dos anos.

O achado para tal questão pode ser vista no brilhante documentário através do vivo depoimento, fotos e imagens cinematográficas de professores, de alunos e de familiares da saudosa Maria Nilde Mascelani (1931-1999) e seu legado educacional.

Idealizadora de um modelo progressista e pioneiro na educação pública brasileira, os Ginásios Vocacionais, instalados na década de 60 em São Paulo, Batatais, Americana, Rio Claro, Barretos e São Caetano do Sul visou à formação multidisciplinar de alunos e, sobretudo instigava que os alunos fossem sujeitos de sua própria história, ou seja, agentes de transformação. Para isso, as escolas uniam projetos interdisciplinares e viagens de estudo, por meio de uma intensa participação dos alunos em equipes, sempre estimulados a se expressarem e participarem sobre todas as questões escolares e sociais.

Educadora humanista, Maria Nilde Mascelani lutou com coragem e determinação em prol de seus ideais numa época em que ser consciente era ser subversivo, ser atuante era ser comunista, ser educador respeitado e preparado era uma ameaça. Enfim sua luta não foi inglória, deixou discípulos, várias obras e acima de tudo a esperança na Educação no Brasil.

No documentário Vocacional, uma aventura humana, encontrei fios para tecer o entendimento de fatos caros à minha memória. Esta exibição cinematográfica cumpre definitivamente a função de documentário, uma vez que amplia o entendimento de um exemplo enigmático da Educação no Brasil.