O desenvolvimento de
uma criança, em geral parece estar associado à ideia de crescimento de uma
planta. Para o seu processo de crescimento parece que seria suficiente o sol, a
água e um solo fértil. Nessa analogia para
a criança desenvolver deveria apenas alimentada, cuidada e sustentada
por um ambiente afetivo, familiar e escolar.
Esta concepção defende que “... a criança contém todos os
estágios do futuro desenvolvimento intelectual: eles existem já na sua forma
completa, esperando o momento adequado para emergir” (Vygostky, 1984, p.26)
Será que esperar que
a criança cresça com o afeto dos pais e o incentivo a aquisição de habilidades
da escola é suficiente?
Será que se a criança
for regada com amor e iluminada com cuidado, sobre um solo fértil de
conhecimentos escolares, desenvolve o seu potencial?
Como será o seu desenvolvimento e
aprendizado? De maneira passiva, se resignando a interdição do experimentar o
novo? Ou quem sabe de forma ativa aceitando tentar o novo de maneira autônoma?
Como a criança sente e recebe o auxilio para o desenvolvimento e
aprendizado?
Cada ser é único na
sua constituição física e psíquica. Porém, segundo a perspectiva
sócio-construtivista, o desenvolvimento se dará com maior ou menor intensidade,
conforme as interações sociais estabelecidas, na família e escola.
Ambas as instituições
são co-responsáveis pelo desenvolvimento e aprendizado infantil. A escola é
responsável pelo conhecimento cultural da humanidade e a família pelo
conhecimento cotidiano. Ambas as instituições ao estabelecerem parceria delimitam
para si e a para a criança os seus papeis.
Na educação infantil, a criança, durante o
percurso de seu desenvolvimento e aprendizado, oscila entre dois movimentos: a
necessidade de autonomia e a necessidade de garantir afeto, ou seja, a
necessidade de distancia e a necessidade de proximidade. O processo de
desenvolvimento e aprendizagem é dinâmico e dialético.
A parceria de
atuações e intervenções dos pais com a escola é fundamental, pois garantirá o
desenvolvimento e aprendizagem ativa e saudável da criança.
A aprendizagem é um
processo estabelecido na relação humana, a partir da experiência do outro mais
avançado, seja adulto ou um companheiro. Aprende-se na relação com o outro Na
visão do sócio-interacionismo, é muito importante o papel da interação no
desenvolvimento infantil. È através da interação humana que se dará o avanço do
desenvolvimento e da aprendizagem.
Desde o nascimento, o bebe estabelece uma
constante interação com os adultos, que dele asseguram a suas condições de
sobrevivência e também mediam a sua relação com o mundo.
Com a ajuda do
adulto, na família ou escola, as crianças aprendem ativamente habilidades
sociais construídas pela historia: aprende a sentar, a andar, a controlar os
esfíncteres, a falar, a sentar-se a mesa, a comer com os talheres, a tomar
líquido em copos, e uma serie de outras ações. Depois de serem exercitados com
autonomia, sem a intermediação do adulto, estes processos de aprendizagem
começam a ser internalizados. Portanto há um tempo para aprender.
Dessa maneira, a
atividade que anteriormente precisou ser mediada pelo pai ou educador, passa a
ser um processo voluntario e independente (Rego, 1995). Aqui a criança aprende
e está aberta a outros desafios da aprendizagem.
Mas como é difícil
perceber quando a criança está apta a desempenhar a atividade com autonomia?
Qual é o tempo adequado para que realize sozinha uma atividade?
A criança necessita
da mediação do adulto, como apoio afetivo, mas ao mesmo tempo precisa exercitar
a atividade com autonomia. Assim há um
tempo de exercício com o apoio do adulto e há um tempo para o exercício da
autonomia.Existe um tempo para amadurecer, próprio de cada criança, que irá
depender de como o adulto oportuniza a
situação da aprendizagem.
Na aprendizagem do andar, vemos com clareza
essa situação: apóia-se no adulto, em seguida nos objetos ao seu redor e
finalmente lança-se a andar com autonomia. No entanto o seu desenvolvimento
para andar terá sucesso a depender da atitude do adulto ao promover a autonomia
do andar; com palavras e gestos de apoio e incentivo, ou permitindo que tombe
no chão algumas vezes e descubra o equilíbrio e manejo dos movimentos
corporais, ou ainda ao forneça um ambiente físico adequado livre de riscos, e
finalmente que olhe a criança como capaz de andar sozinha.
Para perceber qual o
tempo, a hora que a criança está apta a soltar-se e realizar a atividade com
autonomia, basta olhar a criança e notar seus avanços de movimentos e intenções
que assinalem o desejo de independência. Por vezes ela é mais independente para
realizar uma atividade como comer sozinha com as mãos, mas ainda não anda por
si. Este fator indica como o desenvolvimento é dinâmico e dialético e sugere
que o sinal de que come sozinha, logo poderá em breve caminhar sem apoio.
Portanto está no tempo de estimular a autonomia para andar.
Existe um tempo para
aprender cada atividade humana. A infância é o período onde há predominância
das questões motoras, emocionais e sociais na direção da autonomia.
Quando a criança
ingressa na educação infantil, é a possibilidade de aprimorar a aprendizagem da
autonomia. Rufo (2007) ao discutir um os benefícios da pré-escola, relata um
caso de uma menina de três anos, e salienta como a escola possibilita a criança
se afastar da relação materna para propiciar o confronto com os outros e assim
aprender outors modelos de relação de identificação, com educadores e colegas.
Nesse sentido indica o autor, a escola representa uma abertura para o mundo e
um enriquecimento de possibilidades.
O contato com
pessoas, pai, mãe e educador perante um bebe é de acolhimento e interpretação
as suas reações. Em geral os adultos agem de acordo com a leitura dos sinais
emitida pela criança e assim atribuem-lhe significados: muda-o de posição,
dá-lhe de mamar, solta suas roupas, etc. O adulto ao olhar a criança visa
atender suas necessidades e comunicar-se com ela: sorri, conversa e canta.
Desenvolve-se então, entre o bebe e o adulto uma intensa comunicação afetiva,
um diálogo com bases corporais e expressivas (Galvão, 1999).
Pouco a pouco o bebe
corresponde aos atos do adulto e os do ambiente, suas reações diversificam-se e
tornam-se claramente intencionais. Pela ação do outro, dos pais ou do educador,
o movimento que antes era somente espasmo passa a ser a expressão afetiva: o
sorriso é um exemplo. (Galvão, 1999).
No inicio o bebe
sorri sozinho, sem motivo aparente, é um sorriso fisiológico. No entanto pela
interação humana aprende a expressar a sua afetividade: alegria, perplexidade,
medo, cólera e outros.
A afetividade inicia
seu trajeto com a aprendizagem da expressão das emoções, com o suporte
corporal, na relação com o outro. Mais tarde vai aprender no grupo social mais
amplo a expressar os sentimentos.
A afetividade faz
parte inerente do desenvolvimento e da aprendizagem, pois faz parte fundamental
da relação humana. Mas seu desenvolvimento não é linear.
Wallon (Galvão, 1999)
assinala que o desenvolvimento infantil tem um ritmo descontinuo que se
assemelha ao movimento de um pendulo que, pode oscilar de um pólo ao outro, com
características próprias de cada etapa.
Para que haja um
desenvolvimento infantil saudável, deve-se
considerar o ritmo e o tempo do desenvolvimento de cada criança.
No entanto, para ampliar a visão sobre o
desenvolvimento infantil Guralnick (1997; 1998) citado por Giné ao discutir
sobre a intervenção precoce em famílias para promover o desenvolvimento
infantil, indica três padrões de interação familiar - Ações que promovem o
desenvolvimento infantil:
1-
Qualidade dos relacionamentos pais/filho
Responder de maneira
contingencial, manter reciprocidade na relação, prover de interação afetiva e
calorosa e não intrusiva;
Estruturar as
situações: organizar o ambiente com referenciais seguros, falar com o filho e
desenvolver um padrão de interação sensível as necessidades dele.
2-
Experiências
do ambiente físico e social oferecidas ao filho
Proporcionar uma variedade de materiais e
jogos facilitadores, considerando as características evolutivas do filho
Prover certa freqüência de relações com outras
crianças e com adultos próximos a família.
Participar, no tempo
oportuno, em atividades escolares e de lazer.
3-
Hábitos que
garantem a saúde e segurança
Proporcionar cuidados com a saúde, nutrição e
ausência de violência.
O desenvolvimento e
aprendizagem se fazem em parceria entre a escola e família a fim de promover um
ser ativo no seu processo de vida.
Referências bibliográficas
IGEA,
B R (Orgs) Presente e futuro do trabalho
psicopedagogico. Porto Alegre: Art Med, 2005.
GALVÂO,
I Henri Wallon: uma concepção dialética
do desenvolvimento infantil. Petrópolis:
Vozes, 1999.
REGO,
TC Vygostky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes,
1995.
RUFO,
M Me larga! Separar-se para
crescer São Paulo: Martins Fontes, 2007.
VYGOSTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Marins
Fontes, 1984.
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