terça-feira, 21 de maio de 2013

PAIS E ESCOLA : PARCEIROS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL

             O desenvolvimento de uma criança, em geral parece estar associado à ideia de crescimento de uma planta. Para o seu processo de crescimento parece que seria suficiente o sol, a água e um solo fértil. Nessa analogia para  a criança desenvolver deveria apenas alimentada, cuidada e sustentada por um ambiente afetivo, familiar e escolar.  Esta concepção defende  que “... a criança contém todos os estágios do futuro desenvolvimento intelectual: eles existem já na sua forma completa, esperando o momento adequado para emergir” (Vygostky, 1984, p.26)
Será que esperar que a criança cresça com o afeto dos pais e o incentivo a aquisição de habilidades da escola é suficiente?
Será que se a criança for regada com amor e iluminada com cuidado, sobre um solo fértil de conhecimentos escolares, desenvolve o seu potencial?
            Como será o seu desenvolvimento e aprendizado? De maneira passiva, se resignando a interdição do experimentar o novo? Ou quem sabe de forma ativa aceitando tentar o novo de maneira autônoma?
           Como a criança sente e recebe o auxilio para o desenvolvimento e aprendizado?
Cada ser é único na sua constituição física e psíquica. Porém, segundo a perspectiva sócio-construtivista, o desenvolvimento se dará com maior ou menor intensidade, conforme as interações sociais estabelecidas, na família e escola.
Ambas as instituições são co-responsáveis pelo desenvolvimento e aprendizado infantil. A escola é responsável pelo conhecimento cultural da humanidade e a família pelo conhecimento cotidiano. Ambas as instituições ao estabelecerem parceria delimitam para si e a para a criança os seus papeis.
 Na educação infantil, a criança, durante o percurso de seu desenvolvimento e aprendizado, oscila entre dois movimentos: a necessidade de autonomia e a necessidade de garantir afeto, ou seja, a necessidade de distancia e a necessidade de proximidade. O processo de desenvolvimento e aprendizagem é dinâmico e dialético.
A parceria de atuações e intervenções dos pais com a escola é fundamental, pois garantirá o desenvolvimento e aprendizagem ativa e saudável da criança.
A aprendizagem é um processo estabelecido na relação humana, a partir da experiência do outro mais avançado, seja adulto ou um companheiro. Aprende-se na relação com o outro Na visão do sócio-interacionismo, é muito importante o papel da interação no desenvolvimento infantil. È através da interação humana que se dará o avanço do desenvolvimento e da aprendizagem.
 Desde o nascimento, o bebe estabelece uma constante interação com os adultos, que dele asseguram a suas condições de sobrevivência e também mediam a sua relação com o mundo.
Com a ajuda do adulto, na família ou escola, as crianças aprendem ativamente habilidades sociais construídas pela historia: aprende a sentar, a andar, a controlar os esfíncteres, a falar, a sentar-se a mesa, a comer com os talheres, a tomar líquido em copos, e uma serie de outras ações. Depois de serem exercitados com autonomia, sem a intermediação do adulto, estes processos de aprendizagem começam a ser internalizados. Portanto há um tempo para aprender.
Dessa maneira, a atividade que anteriormente precisou ser mediada pelo pai ou educador, passa a ser um processo voluntario e independente (Rego, 1995). Aqui a criança aprende e está aberta a outros desafios da aprendizagem.
Mas como é difícil perceber quando a criança está apta a desempenhar a atividade com autonomia? Qual é o tempo adequado para que realize sozinha uma atividade?
A criança necessita da mediação do adulto, como apoio afetivo, mas ao mesmo tempo precisa exercitar a atividade com autonomia.  Assim há um tempo de exercício com o apoio do adulto e há um tempo para o exercício da autonomia.Existe um tempo para amadurecer, próprio de cada criança, que irá depender de  como o adulto oportuniza a situação da aprendizagem.
 Na aprendizagem do andar, vemos com clareza essa situação: apóia-se no adulto, em seguida nos objetos ao seu redor e finalmente lança-se a andar com autonomia. No entanto o seu desenvolvimento para andar terá sucesso a depender da atitude do adulto ao promover a autonomia do andar; com palavras e gestos de apoio e incentivo, ou permitindo que tombe no chão algumas vezes e descubra o equilíbrio e manejo dos movimentos corporais, ou ainda ao forneça um ambiente físico adequado livre de riscos, e finalmente que olhe a criança como capaz de andar sozinha.
Para perceber qual o tempo, a hora que a criança está apta a soltar-se e realizar a atividade com autonomia, basta olhar a criança e notar seus avanços de movimentos e intenções que assinalem o desejo de independência. Por vezes ela é mais independente para realizar uma atividade como comer sozinha com as mãos, mas ainda não anda por si. Este fator indica como o desenvolvimento é dinâmico e dialético e sugere que o sinal de que come sozinha, logo poderá em breve caminhar sem apoio. Portanto está no tempo de estimular a autonomia para andar.
Existe um tempo para aprender cada atividade humana. A infância é o período onde há predominância das questões motoras, emocionais e sociais na direção da autonomia.
Quando a criança ingressa na educação infantil, é a possibilidade de aprimorar a aprendizagem da autonomia. Rufo (2007) ao discutir um os benefícios da pré-escola, relata um caso de uma menina de três anos, e salienta como a escola possibilita a criança se afastar da relação materna para propiciar o confronto com os outros e assim aprender outors modelos de relação de identificação, com educadores e colegas. Nesse sentido indica o autor, a escola representa uma abertura para o mundo e um enriquecimento de possibilidades.
O contato com pessoas, pai, mãe e educador perante um bebe é de acolhimento e interpretação as suas reações. Em geral os adultos agem de acordo com a leitura dos sinais emitida pela criança e assim atribuem-lhe significados: muda-o de posição, dá-lhe de mamar, solta suas roupas, etc. O adulto ao olhar a criança visa atender suas necessidades e comunicar-se com ela: sorri, conversa e canta. Desenvolve-se então, entre o bebe e o adulto uma intensa comunicação afetiva, um diálogo com bases corporais e expressivas (Galvão, 1999).
Pouco a pouco o bebe corresponde aos atos do adulto e os do ambiente, suas reações diversificam-se e tornam-se claramente intencionais. Pela ação do outro, dos pais ou do educador, o movimento que antes era somente espasmo passa a ser a expressão afetiva: o sorriso é um exemplo. (Galvão, 1999).
No inicio o bebe sorri sozinho, sem motivo aparente, é um sorriso fisiológico. No entanto pela interação humana aprende a expressar a sua afetividade: alegria, perplexidade, medo, cólera e outros.
A afetividade inicia seu trajeto com a aprendizagem da expressão das emoções, com o suporte corporal, na relação com o outro. Mais tarde vai aprender no grupo social mais amplo a expressar os sentimentos.
A afetividade faz parte inerente do desenvolvimento e da aprendizagem, pois faz parte fundamental da relação humana. Mas seu desenvolvimento não é linear.
Wallon (Galvão, 1999) assinala que o desenvolvimento infantil tem um ritmo descontinuo que se assemelha ao movimento de um pendulo que, pode oscilar de um pólo ao outro, com características próprias de cada etapa.
Para que haja um desenvolvimento infantil saudável, deve-se  considerar o ritmo e o tempo do desenvolvimento de cada criança.
 No entanto, para ampliar a visão sobre o desenvolvimento infantil Guralnick (1997; 1998) citado por Giné ao discutir sobre a intervenção precoce em famílias para promover o desenvolvimento infantil, indica três padrões de interação familiar - Ações que promovem o desenvolvimento infantil:
1-               Qualidade dos relacionamentos pais/filho
Responder de maneira contingencial, manter reciprocidade na relação, prover de interação afetiva e calorosa e não intrusiva;
Estruturar as situações: organizar o ambiente com referenciais seguros, falar com o filho e desenvolver um padrão de interação sensível as necessidades dele.
2-                Experiências do ambiente físico e social oferecidas ao filho
 Proporcionar uma variedade de materiais e jogos facilitadores, considerando as características evolutivas do filho
 Prover certa freqüência de relações com outras crianças e com adultos próximos a família.
Participar, no tempo oportuno, em atividades escolares e de lazer.
3-                Hábitos que garantem a saúde e segurança
 Proporcionar cuidados com a saúde, nutrição e ausência de violência.
O desenvolvimento e aprendizagem se fazem em parceria entre a escola e família a fim de promover um ser ativo no seu processo de vida.





Referências bibliográficas
IGEA, B R (Orgs)  Presente e futuro do trabalho psicopedagogico. Porto Alegre: Art Med, 2005.

GALVÂO, I  Henri Wallon: uma concepção dialética do desenvolvimento infantil.  Petrópolis: Vozes, 1999.

REGO, TC Vygostky: uma perspectiva histórico-cultural da educação. Petrópolis: Vozes, 1995.

RUFO, M   Me larga! Separar-se para crescer  São Paulo: Martins Fontes, 2007.

WINNICOTT D W   Conversando com os pais  São Paulo: Martins Fontes, 1999.

 VYGOSTSKY, L. S.  A formação social da mente. São Paulo: Marins Fontes, 1984.