segunda-feira, 19 de novembro de 2012

PAIS POTENCIALIZADORES DA APRENDIZAGEM


 
A criança é o único ser vivo que nasce e não se desenvolve sem a ajuda de um adulto. No entanto paradoxalmente esta limitação adaptativa, parece ser compensada por sua capacidade para ser educado pelo adulto. Mediante ajuda e colaboração dos outros, adultos, se converte em pessoa independente e autônoma capaz de contribuir para a cultura humana, com criatividade e trabalho.

Longe de dar supremacia à família como única responsável pela educação e desenvolvimento das crianças e jovens, a escola e toda a sociedade também são co- responsáveis. Todos colaboram na constituição educacional da criança.

 No entanto, há uma questão de aparente contradição; de um lado a posição do “outro”, o adulto, que participa, dirige, promove, facilita e ensina. Do outro há o sujeito, o filho, a criança ou jovem que participa, cria, realiza tarefas com liberdade e espontaneidade. Desta forma no primeiro caso há um protagonismo do adulto e no segundo da criança ou jovem. Essa colocação de supostamente contrário tem sido colocada pelas tendências tradicionais da Pedagogia, da Escola Nova ao Construtivismo (Beatón, 2001).

 Para contribuir com essa questão apresento algumas reflexões sobre o papel dos pais como potencializadores do processo educativo. Os pais são responsáveis pela educação e aprendizagem escolar? Será a escola a única responsável pela educação?  Que tipo de relação deve produzir-se entre o “outro” que ensina e o sujeito que aprende e se desenvolve, para que participe ativamente da sua construção individual?

Na perspectiva histórico-cultural a relação de aprendizagem se produz de maneira sistematizada pela escola, dos conhecimentos científicos culturais e a família do conhecimento cotidiano. Ambos os setores são amparados por outras instituições da rede social na formação e desenvolvimento educacional.

Mas o que seria ser um pai potencializador da aprendizagem?

O termo potencializador da aprendizagem advém da visão histórica cultural de Vygostky. Nessa perspectiva a relação do aprender se faz por pares. O desenvolvimento para este autor está vinculado ao relacionamento sócio-cultural em que a pessoa está inserida. Este se dá de forma dinâmica e dialética, através de rupturas e desequilíbrios geradores de constantes reorganizações realizadas pelo individuo. O par mais avançado provoca mudanças no outro, e vice versa.

O pai potencializador da aprendizagem, nessa perspectiva, exerce sobre o outro, seu filho, o papel de propulsor de mudanças. Ele irá propiciar o desenvolvimento potencial do outro, através de relação que transmite valores culturais e acentua os individuais. Os valores culturais do saber cotidiano como o incentivo a curiosidade dos fatos do dia a dia, desde as noticias da cidade e do mundo até uma leitura estética de uma escultura em um parque. Ao expor o filho ao conhecimento cultural cotidiano, proporciona uma leitura pessoal e autônoma; sua opinião a respeito de um fato ocorrido na cidade, por exemplo, as enchentes ocorridas no período das chuvas, ou ainda a expressão pessoal sobre a estética e material daquela escultura do parque.

O filho ao conviver num ambiente onde a curiosidade e o pensar são permitidos e incentivados, vai desenvolver interesse e pensamento autônomo.  Será capaz de avançar no seu desenvolvimento nas relações de aprendizagem da escola.

Na minha pratica clinica psicopedagógica através de dados empíricos verifico que os pais que acompanham a vida escolar dos filhos, sobre os temas em curso, organização dos materiais, questionamentos sobre a realização de projetos, incentivo a capacidade de resolver desafios, demonstram ser capazes de potencializar a aprendizagem de seus filhos.

Os pais potencializadores não são professores ou educadores. Seu desempenho é sustendo pelas relações afetivas da paternidade e configura-se em ambiente informal da família. Toda relação vincular como acentua Rufo (2007) ao discutir a força do vinculo parental e filial, traz em si a idéia do vinculo como forma de nos ensinar a criar laços e ao mesmo tempo de encontrar forças para nós nos desvencilharmos. Desta maneira, vincula-se para aprender a desvincular-se. Ensina-se para aprender a questionar-se. E assim apregoa que “Amar um filho é ajudá-lo a encontrar a auto-estima necessária para que ele nos deixe assim que se sinta pronto para isso” (Rofo, 2007, p. 185).  

Os pais potencializadores do aprender ensinam e aprendem, determinam e aceitam opiniões, expressam sentimentos perante uma comunicação clara e democrática. E acima de tudo, incentivam as capacidades potenciais do filho real.

Por outro lado quando estão presentes nas relações parentais inconsistência na comunicação, dispersão de autoridade, o autoritarismo, superproteção, ambivalências afetivas, haverá prejuízo da aprendizagem cotidiana e escolar.

Beatón (2001) em seus estudos verificou que os fatores que mais determinam o desenvolvimento infantil são os relacionados ao abandono de estimulação por parte dos familiares e a superproteção. O primeiro aspecto não permite o desenvolvimento potencial dos filhos pela ausência total de estimulação ao conhecer e o segundo, a superproteção o limita, pois os adultos assumem todas as possíveis tarefas da criança, não autorizando o espaço para o desenvolvimento da autonomia.

O processo que promove a aprendizagem, segundo Beatón (2001) de famílias potencializadoras, são aquelas que respeitam o desenvolvimento infantil, acreditam na necessidade de estimulação cognitiva e na criação de um ambiente afetivo-emocinal positivo em prol da independência e autonomia do filho. Acentua esse autor uma idéia que partilho “... o verdadeiro conhecimento e o que fazer, está nas famílias e não em receitas ou conselhos de especialistas” (2001, p. 27).
Como o pai poderia potencializar a aprendizagem do seu filho?
Para tanto é necessário que se atenha aos seguintes aspectos:

·        Conhecer o desenvolvimento potencial e real de seu filho atual.

·        Perceber a capacidade e estilo cognitivo, preferências culturais e artísticas.

·        Identificar na relação com o filho as seguintes questões: O que pode desenvolver?Quais circunstâncias apontam para o desenvolvimento potencial?O que realmente o filho pode realizar por si? Quando o filho necessita de apoio do pai?

·                  Promover para o filho novas situações do que sabe fazer, porém com níveis de complexidade diferentes.
Para tornar pratico o desempenho dos pais potencializadores da aprendizagem sugiro os seguintes procedimentos.

        Níveis de apoio:

  1. Recordação da tarefa e ou da situação de aprendizagem anterior
  2. Buscar a transferência de solução de aprendizagens ou situações anteriores
  3. Elaboração conjunta da solução ou tarefa, mas até certo ponto. Promover condições para que possa caminhar com autonomia.
  4. Solicitar que demonstre como resolveu a situação de aprendizagem.

    O desenvolvimento do pai potencializador da aprendizagem proporcionará a autonomia ao filho.

    O filho pode ser independente com a ajuda do pai. A maneira como o filho realiza a aprendizagem demonstrará o quanto o pai favoreceu o seu desenvolvimento potencial enquanto aluno e cidadão.

Referencias bibliográficas

BEATON, G A Evaluación y Diagnóstico en la educación y El desarrollo desde El enfoque histórico cultural  São Paulo: Laura Marisa C. Calejon, 2001.

REGO, T C Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação Petropolis: Vozes, 1995.

 

 

 

 

Um comentário:

Grupo PSI disse...

Muito pertinente o artigo, vem ao encontro de uma situação psicopedagógica que vivencio com um cliente no momento. Parabéns!