A
criança é o único ser vivo que nasce e não se desenvolve sem a ajuda de um adulto.
No entanto paradoxalmente esta limitação adaptativa, parece ser compensada por
sua capacidade para ser educado pelo adulto. Mediante ajuda e colaboração dos
outros, adultos, se converte em pessoa independente e autônoma capaz de
contribuir para a cultura humana, com criatividade e trabalho.
Longe
de dar supremacia à família como única responsável pela educação e desenvolvimento
das crianças e jovens, a escola e toda a sociedade também são co- responsáveis.
Todos colaboram na constituição educacional da criança.
No entanto, há uma questão de aparente
contradição; de um lado a posição do “outro”, o adulto, que participa, dirige,
promove, facilita e ensina. Do outro há o sujeito, o filho, a criança ou jovem
que participa, cria, realiza tarefas com liberdade e espontaneidade. Desta
forma no primeiro caso há um protagonismo do adulto e no segundo da criança ou
jovem. Essa colocação de supostamente contrário tem sido colocada pelas
tendências tradicionais da Pedagogia, da Escola Nova ao Construtivismo (Beatón,
2001).
Para contribuir com essa questão apresento
algumas reflexões sobre o papel dos pais como potencializadores do processo
educativo. Os pais são responsáveis pela educação e aprendizagem escolar? Será
a escola a única responsável pela educação?
Que tipo de relação deve produzir-se entre o “outro” que ensina e o
sujeito que aprende e se desenvolve, para que participe ativamente da sua
construção individual?
Na
perspectiva histórico-cultural a relação de aprendizagem se produz de maneira
sistematizada pela escola, dos conhecimentos científicos culturais e a família do
conhecimento cotidiano. Ambos os setores são amparados por outras instituições
da rede social na formação e desenvolvimento educacional.
Mas o
que seria ser um pai potencializador da aprendizagem?
O
termo potencializador da aprendizagem advém da visão histórica cultural de
Vygostky. Nessa perspectiva a relação do aprender se faz por pares. O
desenvolvimento para este autor está vinculado ao relacionamento sócio-cultural
em que a pessoa está inserida. Este se dá de forma dinâmica e dialética,
através de rupturas e desequilíbrios geradores de constantes reorganizações
realizadas pelo individuo. O par mais avançado provoca mudanças no outro, e
vice versa.
O pai
potencializador da aprendizagem, nessa perspectiva, exerce sobre o outro, seu
filho, o papel de propulsor de mudanças. Ele irá propiciar o desenvolvimento
potencial do outro, através de relação que transmite valores culturais e acentua
os individuais. Os valores culturais do saber cotidiano como o incentivo a
curiosidade dos fatos do dia a dia, desde as noticias da cidade e do mundo até
uma leitura estética de uma escultura em um parque. Ao expor o filho ao
conhecimento cultural cotidiano, proporciona uma leitura pessoal e autônoma; sua
opinião a respeito de um fato ocorrido na cidade, por exemplo, as enchentes
ocorridas no período das chuvas, ou ainda a expressão pessoal sobre a estética
e material daquela escultura do parque.
O
filho ao conviver num ambiente onde a curiosidade e o pensar são permitidos e incentivados,
vai desenvolver interesse e pensamento autônomo. Será capaz de avançar no seu desenvolvimento nas
relações de aprendizagem da escola.
Na
minha pratica clinica psicopedagógica através de dados empíricos verifico que
os pais que acompanham a vida escolar dos filhos, sobre os temas em curso,
organização dos materiais, questionamentos sobre a realização de projetos,
incentivo a capacidade de resolver desafios, demonstram ser capazes de
potencializar a aprendizagem de seus filhos.
Os
pais potencializadores não são professores ou educadores. Seu desempenho é
sustendo pelas relações afetivas da paternidade e configura-se em ambiente
informal da família. Toda relação vincular como acentua Rufo (2007) ao discutir
a força do vinculo parental e filial, traz em si a idéia do vinculo como forma
de nos ensinar a criar laços e ao mesmo tempo de encontrar forças para nós nos
desvencilharmos. Desta maneira, vincula-se para aprender a desvincular-se.
Ensina-se para aprender a questionar-se. E assim apregoa que “Amar um filho é
ajudá-lo a encontrar a auto-estima necessária para que ele nos deixe assim que
se sinta pronto para isso” (Rofo, 2007, p. 185).
Os
pais potencializadores do aprender ensinam e aprendem, determinam e aceitam
opiniões, expressam sentimentos perante uma comunicação clara e democrática. E
acima de tudo, incentivam as capacidades potenciais do filho real.
Por
outro lado quando estão presentes nas relações parentais inconsistência na
comunicação, dispersão de autoridade, o autoritarismo, superproteção,
ambivalências afetivas, haverá prejuízo da aprendizagem cotidiana e escolar.
Beatón
(2001) em seus estudos verificou que os fatores que mais determinam o
desenvolvimento infantil são os relacionados ao abandono de estimulação por
parte dos familiares e a superproteção. O primeiro aspecto não permite o
desenvolvimento potencial dos filhos pela ausência total de estimulação ao
conhecer e o segundo, a superproteção o limita, pois os adultos assumem todas
as possíveis tarefas da criança, não autorizando o espaço para o
desenvolvimento da autonomia.
O
processo que promove a aprendizagem, segundo Beatón (2001) de famílias
potencializadoras, são aquelas que respeitam o desenvolvimento infantil, acreditam
na necessidade de estimulação cognitiva e na criação de um ambiente
afetivo-emocinal positivo em prol da independência e autonomia do filho. Acentua
esse autor uma idéia que partilho “... o verdadeiro conhecimento e o que fazer,
está nas famílias e não em receitas ou conselhos de especialistas” (2001, p.
27).
Como o
pai poderia potencializar a aprendizagem do seu filho?
Para
tanto é necessário que se atenha aos seguintes aspectos:
·
Conhecer
o desenvolvimento potencial e real de seu filho atual.
·
Perceber
a capacidade e estilo cognitivo, preferências culturais e artísticas.
·
Identificar
na relação com o filho as seguintes questões: O que pode desenvolver?Quais
circunstâncias apontam para o desenvolvimento potencial?O que realmente o filho
pode realizar por si? Quando o filho necessita de apoio do pai?
·
Promover
para o filho novas situações do que sabe fazer, porém com níveis de
complexidade diferentes.
Para
tornar pratico o desempenho dos pais potencializadores da aprendizagem sugiro
os seguintes procedimentos.
Níveis de apoio:
- Recordação da
tarefa e ou da situação de aprendizagem anterior
- Buscar a
transferência de solução de aprendizagens ou situações anteriores
- Elaboração conjunta
da solução ou tarefa, mas até certo ponto. Promover condições para que
possa caminhar com autonomia.
- Solicitar que demonstre como resolveu a situação de aprendizagem.
O desenvolvimento do pai potencializador da
aprendizagem proporcionará a autonomia ao filho.
O filho pode ser independente com a ajuda
do pai. A maneira como o filho realiza a aprendizagem demonstrará o quanto o
pai favoreceu o seu desenvolvimento potencial enquanto aluno e cidadão.
Referencias
bibliográficas
BEATON,
G A Evaluación y Diagnóstico en la educación y El desarrollo desde El enfoque histórico
cultural São Paulo: Laura Marisa C. Calejon,
2001.
REGO,
T C Vygotsky: uma perspectiva histórico-cultural da educação Petropolis: Vozes,
1995.